segunda-feira, 6 de maio de 2013

Guardar dinheiro ou Aproveitar a vida?


Nem todos conhecem o conto da cigarra e da formiga, farei um breve resumo. A cigarra era conhecida entre os animais por estar sempre dançando, cantando e fazendo seu barulho típico em tom de divertimento e liberdade. Sempre olhava para as formigas trabalhando exaustivamente e caçoava delas por estarem sempre ocupadas e carregando pesados fardos nas costas, sem nunca descansar e se alegrar. 
Essas, por sua vez, olhavam de canto para a cigarra e lamentavam ver alguém irresponsável que nunca se preocupava com nada. Até que veio o inverno e a cigarra, como não tinha se preparado, passou muito frio e fome até que bateu na porta do formigueiro para pedir abrigo e comida. As formigas que estavam repletas de suprimento resistiram ao pedido inicial, mas diante da irresistível alegria da cigarra cederam e a trouxeram para o formigueiro e atravessaram juntas a fase difícil.
Esse conto revela dois perfis típicos de personalidade em se tratando de como lidar com os desejos: os obsessivos e os histriônicos. As obsessivas são aquelas pessoas metódicas, que pensam no futuro, regulam cada ação com disciplina e rigidez. Nunca se permitem gozar a vida até terem toda a segurança possível e, para isso, acumulam tudo o que podem para garantir uma estabilidade que “nunca” vem. Férias nunca surgem e recompensas são sempre adiadas, guardam dinheiro para ter mais dinheiro.
Ambas posturas estão aprisionadas na sensação de escassez. A personalidade histriônica tem certa ingenuidade e excesso de confiança, como a cigarra que acredita que sempre poderá dar um jeito em tudo. Certamente não saberá lidar com impedimentos, frustrações e fracassos e sempre atribuirá seus insucessos à má sorte. Já as formigas-emocionais tem um pessimismo mascarado de realismo, pois sua promessa de usufruto nunca chega e a melhor parte do bolo nunca é finalmente abocanhada, já que ainda não há o suficiente para os dias difíceis.
O dinheiro é sempre um fator que nos coloca diante do desafio frente ao desejo. Nessa hora muitos sucumbem à sua cigarra interior e se lambuzam diante dos apelos de gastos sem a menor capacidade de provisionar para aquilo que realmente é significativo na vida. Gastam seu dinheiro com consumo imediato e sem perceber deixam de lado grandes projetos de felicidade que poderiam alavancar sólidos e reais momentos de prazer.
Os acumuladores são capazes de morrer sem nunca viver um momento autêntico de bem-estar despreocupado. Mesmo nas férias eles contam centavos e mesquinham pequenas satisfações justificando a velha e aprisionadora segurança.
Podemos pensar neste paradoxo entre gastar desenfreadamente e poupar sovinamente ao aceitar duas coisas na vida. A primeira é que não há garantia para a satisfação do desejo, ele é um cigano insaciável, sempre querendo mais e mudando de estadia. Tentar atender ao desejo a todo custo é uma ingenuidade, mas renegá-lo ou sublimá-lo perpetuamente é também uma utopia que amargura o cotidiano.
A segunda é que, apesar da incompletude da vida, podemos proporcionar a nós mesmos prazeres de curto, médio e longo prazo, num tipo de usufruto pessoal, que não estrangule o presente, como a formiga, e nem crie transtornos futuros, como faz a cigarra.
Podemos pensar em tipos de pessoas que agem de um jeito ou de outro, mas a realidade é que possuímos em maior ou menor grau essas posturas mentais coexistindo dentro de nós.
Autor: Eduardo Amuri

Reflexão selecionada pela equipe Coaching e Vida

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