Nem
todos conhecem o conto da cigarra e da formiga, farei um breve resumo. A
cigarra era conhecida entre os animais por estar sempre dançando, cantando e
fazendo seu barulho típico em tom de divertimento e liberdade. Sempre olhava
para as formigas trabalhando exaustivamente e caçoava delas por estarem sempre
ocupadas e carregando pesados fardos nas costas, sem nunca descansar e se
alegrar.
Essas, por sua vez, olhavam de
canto para a cigarra e lamentavam ver alguém irresponsável que nunca se
preocupava com nada. Até que veio o inverno e a cigarra, como não tinha se
preparado, passou muito frio e fome até que bateu na porta do formigueiro para
pedir abrigo e comida. As formigas que estavam repletas de suprimento
resistiram ao pedido inicial, mas diante da irresistível alegria da cigarra
cederam e a trouxeram para o formigueiro e atravessaram juntas a fase difícil.
Esse
conto revela dois perfis típicos de personalidade em se tratando de como lidar
com os desejos: os obsessivos e os histriônicos. As obsessivas são aquelas
pessoas metódicas, que pensam no futuro, regulam cada ação com disciplina e
rigidez. Nunca se permitem gozar a vida até terem toda a segurança possível e,
para isso, acumulam tudo o que podem para garantir uma estabilidade que “nunca”
vem. Férias nunca surgem e recompensas são sempre adiadas, guardam dinheiro
para ter mais dinheiro.
Ambas
posturas estão aprisionadas na sensação de escassez. A personalidade
histriônica tem certa ingenuidade e excesso de confiança, como a cigarra que
acredita que sempre poderá dar um jeito em tudo. Certamente não saberá lidar
com impedimentos, frustrações e fracassos e sempre atribuirá seus insucessos à
má sorte. Já as formigas-emocionais tem um pessimismo mascarado de realismo,
pois sua promessa de usufruto nunca chega e a melhor parte do bolo nunca é
finalmente abocanhada, já que ainda não há o suficiente para os dias difíceis.
O
dinheiro é sempre um fator que nos coloca diante do desafio frente ao desejo.
Nessa hora muitos sucumbem à sua cigarra interior e se lambuzam diante dos
apelos de gastos sem a menor capacidade de provisionar para aquilo que
realmente é significativo na vida. Gastam seu dinheiro com consumo imediato e
sem perceber deixam de lado grandes projetos de felicidade que poderiam
alavancar sólidos e reais momentos de prazer.
Os
acumuladores são capazes de morrer sem nunca viver um momento autêntico de
bem-estar despreocupado. Mesmo nas férias eles contam centavos e mesquinham
pequenas satisfações justificando a velha e aprisionadora segurança.
Podemos
pensar neste paradoxo entre gastar desenfreadamente e poupar sovinamente ao
aceitar duas coisas na vida. A primeira é que não há garantia para a satisfação
do desejo, ele é um cigano insaciável, sempre querendo mais e mudando de
estadia. Tentar atender ao desejo a todo custo é uma ingenuidade, mas renegá-lo
ou sublimá-lo perpetuamente é também uma utopia que amargura o cotidiano.
A
segunda é que, apesar da incompletude da vida, podemos proporcionar a nós
mesmos prazeres de curto, médio e longo prazo, num tipo de usufruto pessoal,
que não estrangule o presente, como a formiga, e nem crie transtornos futuros,
como faz a cigarra.
Podemos
pensar em tipos de pessoas que agem de um jeito ou de outro, mas a realidade é
que possuímos em maior ou menor grau essas posturas mentais coexistindo dentro
de nós.
Autor:
Eduardo Amuri
Reflexão selecionada pela equipe
Coaching e Vida
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